De Pai para Filho: A História de Vida e Solidariedade de um Mecânico Pernambucano

A paixão pela mecânica nasceu em meio a ferramentas simples, muito antes da tecnologia dominar as oficinas. Tudo começou na infância, ao lado do pai, em uma época em que um macaco de jacaré era artigo de luxo e o multímetro era o que havia de mais moderno. Na ausência de elevadores e grandes equipamentos, era no quintal de casa, com um "pé de escada", que pai e filho desmontavam os antigos Volkswagen com as próprias mãos.

A dupla chegou a abrir uma oficina própria, mas o sonho foi interrompido de forma abrupta. O pai faleceu aos 50 anos, vítima de um infarto. Em luto, o filho fechou a oficina, recomeçou do zero, trabalhou em firmas e se especializou em diversas áreas da mecânica. Aos poucos, a garagem de casa virou seu novo ponto de atendimento. “Tirei o terraço, fui botando carro... e foi só aumentando.”

Hoje, com uma clientela fiel e reconhecimento que vai além dos limites de Pernambuco — chegando até a Bahia —, ele se mantém movido não apenas por motores, mas por histórias. Uma das mais marcantes aconteceu em Gravatá, quando, tarde da noite, ele viu um carro parado no acostamento com uma carroça cheia de bicicletas e uma família inteira dentro. Parou para ajudar. “Fui com uma chave de bicicleta, comprei as peças e resolvi. Ele não se apresentou como ninguém. Quando disse que não precisava pagar, ele disse que não sairia de graça.”

Dias depois, o homem — um juiz — publicou o relato nas redes sociais. A história viralizou, e a gratidão se transformou em uma placa de honra fixada com orgulho na oficina. Essa não foi a única homenagem: já recebeu duas premiações como melhor oficina.

Sem hobbies fora da profissão, ele resume: “Não tenho outro conhecimento a não ser esse. Não é só pelo dinheiro. Eu gosto de verdade.” Em cada carro consertado, revive a memória do pai — e mantém viva a essência de um ofício feito com alma, dedicação e empatia. Uma história que começou com as mãos sujas de graxa... e hoje toca corações.